Valdivia, o Justin Bieber da Água Branca

É impossível ficar alheio à presença do chileno Jorge Valdivia no Palmeiras. Dono da camisa 10 que já pertenceu a tantos craques desde agosto de 2010, as reações sobre o chileno são sempre variadas - uns amam e outros não o suportam mais. Me encaixo na segunda opção e por isso me propus a analisar mais friamente o porquê disso tudo ter chegado a esse ponto, desconstruindo a segunda passagem dele, na qual ele esteve muito longe de justificar uma idolatria desmedida e sem nenhum motivo para ainda continuar.

Eu enxergo o Valdivia por dois períodos diferentes. O primeiro, que vestiu a camisa entre 2006 e 2008, era um jovem meia-armador talentosíssimo e que buscava seu lugar ao sol com picardia, talento e vontade de se eternizar por aqui. Se identificou com a torcida justamente por crescer em jogos importantes, sobretudo os clássicos – acabou com os gambás em quase todas que jogou. A conquista do Paulista de 2008 foi épica e ele foi o destaque do time, especialmente ao sapatear sobre o cadáver Leonor no Palestra Itália, mandando o goleiro de hóquei calar a boca naquela que foi a verdadeira final do campeonato. Ele saiu na metade do Campeonato Brasileiro do mesmo ano e ouso dizer que se jamais tivesse voltado, a imagem que teria dele realmente seria a de ídolo absoluto do século XXI – claro, sem a magnitude dos outros ídolos do passado, mas com a importância de nos tirar de uma incômoda fila que já estava no oitavo ano. 

Mas ele voltou – e comemorei muito a volta, não nego – cercado de muitas expectativas e com um salário altíssimo. A missão dele era para conduzir o Palmeiras para títulos e ser o cara e se consolidar de vez como um dos maiores meias da história. Infelizmente para muitos (eu incluso) ele conseguiu destruir sua ótima imagem talhada anteriormente, ao ponto de não suportarmos a presença dele no plantel e não entender o porquê de ter uma parcela da torcida que ainda o idolatra como se ele fosse o craque do século. No momento em que veste novamente a camisa do Palmeiras, tem que respeitá-la por todo instante. Se apoiar no passado não dá salvo conduto para se achar mais importante do que o Palmeiras. 

Entre 2010 e 2012, Valdivia jogou menos de 50% dos jogos sendo que quase nenhum deles foi decisivo, badalou até não poder mais e desdenhou da torcida, sequer demonstrando comprometimento com a situação difícil do time – alguém o viu durante a reta final de 2012, mesmo que seja para dar um apoio moral para quem estava em campo? Isso sem contar que nesse período, o único jogo em que ele realmente foi decisivo foi a segunda partida contra o Grêmio na Copa do Brasil, onde ele anotou um gol que acalmou os ânimos (estava suspenso no jogo de ida, onde o mais difícil foi feito). Mesmo assim, foi expulso no primeiro jogo da final e quase pôs tudo a perder. 

Na campanha vergonhosa em que fomos rebaixados ele fez pior. Com zero gols e zero assistências, ele passou grande parte do primeiro turno fora e quando jogou, fez partidas bem ruins, longe de ser o cara que tanto botamos expectativas em sua volta. Em 2011- ano em que só não caímos porque o primeiro turno foi bom - já tinha sido assim, mas as constantes ausências da estrelinha foi parcialmente eclipsada pela crise causada pelo Judas30. 

Com a queda para a segunda divisão, era de se esperar que o mico fosse defenestrado de uma vez por todas, correto? Da minha parte (e de muitos outros) sim. Porque iriamos querer um estrelinha que não ajuda o time quando precisamos? Não faria o menor sentido apostar no mesmo erro novamente. 

Inacreditavelmente ele ganhou mais moral e idolatria do que se imaginava previamente. E não é nem um pouco justificada, nem mesmo por um suposto saudosismo pelo período mágico entre 2006 e 2008.

O ano de 2013 foi mais um para apagar da memória, fomos eliminados brutalmente de todos os torneios bons que disputamos e fomos castigados com 38 longas rodadas na Série B. E o que Valdivia fez para ter tanta defesa durante esse ano? Nada demais.

No primeiro semestre, Valdivia inexistiu. Até junho, o chileno jogou 9 partidas e ficou fora do restante dos outros jogos, tendo uma longa sequência de 20 jogos no estaleiro. Perdeu clássicos e por “não se sentir seguro” (essa foi a justificativa do então "craque do time"), deixou de jogar os jogos decisivos do Paulista e Libertadores.

A milésima volta do chileno aconteceu após a Copa das Confederações. E ele voltou bem, jogando verticalmente, abrindo ótimos espaços nas defesas, dando alguns passes dignos de mago e lembrando vagamente daquele jogador que foi ótimo entre 2006 e 2008. Mas isso foi na Série B, torneio em que mesmo sem ele, subiríamos com a mesma facilidade. Nem tanto pela qualidade do nosso time, que era (ainda é) bem fraco, mas pela disparidade técnica entre os adversários. 

Mesmo depois da volta, ele teve uma sequência de jogos e se machucou pela milésima vez justamente antes do nosso último confronto realmente importante do ano: Atlético-PR. Ele não participou de nenhum dos dois jogos e apesar de não ter sido o fator principal da eliminação (essa “honra” fica para o Kleina), certamente a presença dele poderia ter dado outra dinâmica para essas partidas. Mas três dias depois, ele estava lá, inteiro e jogando contra o Ceará.

No segundo turno da maldita Série B, alternava sequência de cinco ou seis jogos com períodos em que estava com a seleção chilena. Só foi fator decisivo em duas partidas (Avaí e Joinville), de resto, bateu seu cartão como todos os outros. No jogo contra o Sport percebi que os valores estavam invertidos ao ver que ele teve o nome gritado ao ser substituído, enquanto Wesley, que fez os dois gols e definiu o jogo sozinho, teve aplausos discretos. 

Os próprios números dele em 2013 não justificam essa histeria em cima dele. De 67 partidas que jogamos nesse ano, Valdivia só esteve presente em 27 delas. Mesmo sendo meia, até em gols ficou devendo em relação aos outros já que fez apenas 4 no ano inteiro, enquanto até outros de posições defensivas fizeram mais (Wesley, Charles, Vilson, Henrique e até o Juninho fizeram de 4 gols para cima).

Não entendo tamanha idolatria com alguém que não justifica a presença (ou melhor, ausências contínuas) no Palmeiras. Toda vez que questiono, ouço alguns argumentos, então vamos a eles:

“Ele é patrimônio do clube e não podemos desvalorizá-lo”.
Errado. O maior patrimônio do clube é a nossa enorme torcida espalhada pelo Brasil inteiro. E ao fugir de tantas decisões, ele desrespeita o verdadeiro patrimônio do Palmeiras.

“Sai ele e entra quem?”
Desculpa, mas quem fala isso para mim está conformado. Essa resignação é perigosa e dá carta branca para o chileno fazer do Palmeiras o seu quintal. Cabe aos diretores procurarem outro meia que orquestre um meio de campo que já teve Ademir da Guia, Alex, Zinho, Djalminha, Rivaldo e outros. Perto deles, Valdivia é uma vergonha.

“Ah, mas você é corneta e ele vai calar a sua boca”.
Espero isso desde que ele voltou, em 2010 (e na época eu acreditava nele). Estamos entrando em 2014. Depois de 4 anos, ouvir esse discurso soa como piada de muito mau gosto. 

“Não tem meias como ele”.
O que mais tem por ai é jogador habilidoso esperando uma chance. E mesmo se não tivesse, devemos ser reféns de alguém que joga menos da metade do tempo e não joga jogos decisivos?

“Você só corneta os jogadores bons. Porque não corneta os ruins?”
Corneto todos que estejam desonrando a camisa do Palmeiras. E corneto ainda mais quem tem relativa habilidade, mas que não serve para nada no final das contas.

Comparo essa histeria em relação ao Valdivia com a de adolescentes fãs de Justin Bieber. O ícone pop é um dos piores elementos da história da música, não tem o menor apreço pelos fãs e ainda os desrespeitam, tem constantes ataques de estrelismos e ainda é defendido com unhas e dentes, sem justificativas aparentes e convincentes. O Valdivia (de 2010 em diante) é a versão futebolística do Justin Bieber. Eu mesmo já fui taxado de corneteiro por diversos amigos por dizer que o Valdivia não serve para vestir essa camisa gloriosa, mesmo citando todos os motivos acima.

Desde a aposentadoria de São Marcos estamos órfãos de ídolos e abordamos tal carência anteriormente. É compreensível que alguns procurem um ídolo de maneira incessante só para ter algo no qual podemos dizer "esse eu vi jogar". Valdivia seria o cara para preencher essa lacuna e todo o background construído entre 2006 e 2008 apontava para isso, mas desprezou essa chance e hoje deve muito para a torcida, especialmente para a parcela cética, que tem toda a razão do mundo em corneta-lo. A única explicação para que ele tenha alguma moral é a esperança sem sentido de que ele volte a ser aquele cara que encantou a torcida em 2008. Mas depois de 4 anos, um rebaixamento e diversas eliminações, soa como insanidade depositar esperanças nisso.

Um time sério e que almeja algo grande durante a próxima temporada não pode montar um time contando com esse ídolo de barro (literalmente, pois desmancha fácil). Uma espinha dorsal que se preze precisa de alguém constante dentro de campo, um meia-armador que seja um líder (algo que ele deveria ser, mas não é), não alguém que fica fora mais da metade do tempo e nos deixa na mão em jogos que precisamos dele. Isso não é ídolo, é um omisso e que atrapalha a própria construção de um time.

Se algum milagre acontecer e ele calar minha boca serei o primeiro a admitir, mas duvido muito que isso aconteça. Eu, que pedi a volta dele entre 2008 e 2010, não acredito mais nele. 

3 comentários

Querido irmão palmeirense, eu discordo. E olha que não tenho idolatria por ninguém. Apenas sou torcedor de nascença do Palmeiras. São 57 anos.
No seu primeiro argumento não creio que alguém que se machuque e esteja no departamento médico fuja de decisões, se estas ocorreram durante esse período. Foi fatalidade? Foi descuido? Foi cachaça? Todas as anteriores? O que importa é que REALMENTE ele estava machucado e não podia participar dessas decisões. Isso é CLÍNICO, não há o que contestar um diagnóstico médico, comprovado e divulgado.
Com relação ao seu segundo argumento é claro que não temos um meia no futebol brasileiro que tenha o mesmo TALENTO. Todos os jogadores que você citou eu vi jogar e não há o que discutir a qualidade deles, mas fazem parte do passado. É evidente que existem poucos jogadores que conseguem fazer lançamentos tão precisos e colocar atacantes na cara do gol, como ele, hoje. Quem não vê isso? Com relação a procura de outros meias, sabemos que estão no exterior e que custam os olhos da cara além de terem retorno duvidoso. Se não é verdade, quem é o cara que o Palmeiras poderia trazer com a disponibilidade de caixa que temos com o mesmo valor de futebol? Então TALENTO do Valdívia não entra na questão.
O terceiro argumento se refere ao futuro - 2014. Quando o trouxemos de volta, trouxemos um jogador problema, acostumado a farra, com uma diretoria que o jogava contra a torcida e muita expectativa, não é verdade? Estava envolvido com escândalos e sem vontade de jogar. Ele nos enganou e nos frustrou. ISSO É FATO e foi confessado pelo próprio jogador que RECONHECEU que errou e que está em dívida com o Palmeiras, sua torcida e a seleção de seu pais. Ele promete um 2014 diferente, coisa que NUNCA fez antes, quando respondia essas questões de forma irônica e beirando o desrespeito ao seu torcedor. Também tinhamos um clube com uma diretoria incompetente e um vestiário invadido pela fofoca e difamação.
Eu não sei o que será do Valdívia em 2014, mas nesse momento, jamais me desfaria dele. Seria uma bobagem e ai sim, histeria de torcedores que não o toleram e que firmaram opinião pessoal e definitiva sobre ele não lhe dando oportunidade de se redimir, DEFINITIVAMENTE.
Torço muito pelo Palmeiras e por isso quero o sucesso de Valdívia, no próximo ano. Não sou Valdivete ou qualquer outra coisa, pois a minha idade já não permite dar gritinhos por ninguém, mas me fez a aprender a respeitar as pessoas e, se você leu alguns dos meus comentários, pode ver que jamais usei termos ofensivos e pejorativos a qualquer jogador do elenco e a qualquer outro torcedor. Não faz o meu tipo.
Abraço, amigo! Espero sermos campeões de tudo o ano que vem, com o chileno ou sem ele, mas sempre com respeito.

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Opa, tudo bem?

Respeito seu ponto de vista. E é justamente por ele ter muito talento que eu o corneto muito, porque quando ele voltou eu esperava que ele fosse aquele jogador decisivo de 2008. Mesmo assim, não consigo engolir a ideia de termos um jogador pela metade, mesmo ele não sendo o único culpado por anos de decepções.

Ele fica, então obviamente torço pelo sucesso dele - afinal, o sucesso dele no Palmeiras é o nosso sucesso - mas a questão é o ceticismo formado nesses 3 anos de diversas decepções, não consigo mais acreditar nele justamente pelo tempo que passou desde a volta.

Já que ele fica, eu realmente espero que ele mude e seja constante. Se ele fizer isso, serei o primeiro a aplaudi-lo, assim como fiz muito entre 2006 e 2008 e quando ele voltou, em 2010.

Obrigado pelo contraponto, comentários assim só enriquecem a discussão. Abraços e que venha um centenário decente.

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Concordo em partes com cada um de vocês. O sentimento que o Valdívia consegue despertar na maioria dos palmeirenses e é uma falsa esperança. Esperança de que um dia vai voltar a ser o "velho" Valdívia. Pra mim, essa ótima fase que ele teve em 2008 não vai voltar, infelizmente. Porém, desde 2010 somos reféns dele, digo isso porque em todos os times formados ele sempre foi considerado o "craque" (coisa que não é mais). O Palmeiras começou todos os anos (2010-2013) com o sentimento de que tem um craque no elenco, um cara que pode resolver o jogo, mas isso só ocorre na série B mesmo.
Eu sinto falta de ver o Valdívia jogar como antes, mas sinceramente, não quero ele mais no Palmeiras. Ter um jogador assim nos prende no tempo, e nos impede de trazer outros jogadores que podem render mais do que ele. Por exemplo: se em Jan/2013 nos fosse oferecida a troca dele pelo Everton Ribeiro, será que iríamos aceitar? Dificilmente... e olha hoje (1 ano depois) o que o Everton Ribeiro se tornou.
Um outro ponto a ressaltar porém, é que sempre que um jogador de "alto nível" saí do Palmeiras (de forma brigada com a torcida), as diretorias (passadas e atual) não conseguem outro para seu lugar... Foi assim com Diego Souza, Vagner Love, Kleber Judas, talvez até o Barcos... Se o Valdívia sair, será que algum outro jogador de peso virá ocupar seu lugar?
Que venha um Centenário como o Palmeiras merece.
Abraço!

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