O potencial de Henrique

A bola está com o nosso capitão.
Foto: Getty Images/Helio Suenaga/STR

Com a proximidade da reta final do inferno da série B, é impossível ficar alheio em relação aos nomes que formarão a espinha dorsal para o centenário. O zagueiro Henrique é um desses nomes.

Impossível também ignorarmos a  vasta história de Henrique dentro do Palmeiras. Em sua primeira passagem, formou com Gustavo a melhor dupla de zaga da década passada e foi fundamental para a ótima conquista do Paulista de 2008, sendo intransponível nos jogos finais. A sua saída para o Barcelona, com o Brasileiro-08 em andamento, foi muito sentida e suas reposições (Gladstone e Jeci) nos custaram muitos pontos na briga pelo título daquele ano. Não para menos, em toda janela de transferência entre 2008 e 2011, Henrique aparecia na “lista de desejos” da torcida. A primeira impressão deixada foi realmente boa.

Em junho de 2011, após a saída de Danilo e depois de rodar por alguns clubes de expressão da Europa, Henrique finalmente voltou para o Palmeiras. Infelizmente ele desembarcou no Palmeiras em um período de turbulência (causado por J30) e apesar de um bom início e do rápido entrosamento com Thiago Heleno, decaiu com todo o time no pavoroso segundo turno do Brasileiro-11, chegando a ser preterido por Felipão em algumas partidas. Mesmo assim tinha crédito e entrou a temporada de 2012 com moral e assumindo sua parte para ser um dos líderes técnicos da temporada que se avizinhava. 

Como zagueiro ia bem, mas seu melhor momento nessa segunda passagem foi justamente quando foi deslocado para a posição de primeiro volante na reta final da Copa do Brasil de 2012. O time ganhou liga, a zaga não ficou desguarnecida como costuma ficar com o inapto do Marcio Araújo e ainda ganhou certa qualidade na saída de bola. Essa solidez foi fundamental na conquista da Copa do Brasil e o prestígio do Henrique – que jogou a final com 39º de febre – foi para os céus. 

Infelizmente, como uma andorinha só não faz verão, Henrique sozinho não foi capaz de liderar a reação do Palmeiras no Brasileiro. Em meio a tantos jogadores que envergonhavam a camisa, ele ainda era um dos únicos que mantinham a qualidade, mas isso se mostrou insuficiente no final do campeonato. Após a queda de Felipão e a chegada de Gilson Kleina, Henrique inexplicavelmente foi recuado para de volta para a zaga e Marcio Araújo recuperou a posição. A reinvenção que funcionou perfeitamente estava desfeita. 

Após a hecatombe de 2012 e com as 20 dispensas ao final da temporada, Henrique foi mantido de zagueiro em 2013 pelo absurdo motivo de falta de opções – as outras escolhas possíveis eram Mauricio Ramos e Luiz Gustavo – e era uma das esperanças de uma nova formação de espinha dorsal para o restante desse ano, tal como todos esperavam que fosse um dos líderes que iria levantar um time combalido.

E Henrique novamente começou bem a temporada, assumiu a braçadeira de capitão e era um dos poucos que se salvavam em meio ao desempenho desanimador do início do ano. A inversão com Vilson como primeiro volante no jogo contra o Sporting Cristal e gambás foi realmente interessante e misteriosamente não foi mantida na sequência dos jogos no primeiro semestre. Só a mente brilhante de Gilson Kleina pode explicar o porquê de desfazer o que vinha dando certo.

Porém, na sequência do semestre, Henrique caiu de produção. Seja porque havia (e ainda há) uma cratera tática na intermediária, ou seja pelas próprias falhas individuais, sendo que a mais gritante foi no jogo da volta contra o Tijuana - Bruno implodiu o time, mas em menor escala, Henrique foi responsável dando o presente para o segundo gol, sepultando de vez qualquer chance de reação do Palmeiras. 

Na própria série B, em muitos jogos mostrou um desempenho abaixo do que sabemos que ele pode fazer e já mostrou, mas isso em nada abalou seu prestígio com o General Felipão, que comandando a CBF levou o Henrique para os últimos jogos, justamente sabendo das principais características que fizeram o zagueiro ser considerado um líder aqui no Palmeiras. 

Por ocasião da eliminação da Copa do Brasil, confesso que minha paciência com o Henrique tinha acabado e eu não lamentaria nem um pouco se ele fosse negociado. Mas passada a irritação da queda e analisando friamente, trata-se de um atleta no auge da forma física, possui relativa liderança sobre o elenco, tem crédito com a torcida e esteve nas duas únicas conquistas do Palmeiras nos últimos anos sendo importante em ambas. 

A própria chance de Henrique disputar uma Copa é um ponto positivo, pois dá um ânimo a mais para o nosso camisa 3 desempenhar o melhor que pode em cada jogo, sobretudo na temporada que está chegando, sem contar o respeito que isso impõe aos adversários. De negativo, pesa o fato dele não ser o cara que motiva o time para uma reação, mesmo sendo um líder técnico e moral. As falhas recentes também geram certa desconfiança, algumas foram gritantes e outras inevitáveis, fruto do esquema tétrico montado pelo Kleina.

Com um time base mais qualificado, um esquema tático mais sólido e um elenco reforçado, fica a esperança de que Henrique volte a desempenhar o futebol que mostrou em até 2012 e em partes dessa temporada, aliando excelente senso de posicionamento com raça. Mesmo com a provável ascensão de Eguren, a volta dele para a intermediária, posição onde rendeu seu melhor futebol, também não deve ser descartada, pois sabemos que funciona e pode ser útil em caso de necessidade.

Os números pelo Palmeiras também o ajudam: 152 jogos e 14 gols. Números que impõem respeito e que o credenciam a posição de ser um dos líderes do elenco.

Dito tudo isso, que Henrique entenda sua posição dentro do Palmeiras e sua importância para o time-base do centenário. Ele tem potencial de sobra para melhorar sua história no Palmeiras e se consolidar como ídolo. Depende dele, tem nosso apoio. 

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