Foi dada a largada para o Paulistão 2014



Um sorteio na sede da FPF na tarde desta quarta-feira (30) começou a revelar a cara do Campeonato Paulista de 2014, o primeiro de 3 títulos que tentaremos conquistar no ano de nosso centenário. Devido ao movimento Bom Senso FC, foram suprimidas quatro datas, assim a primeira fase, que tinha 19 rodadas, terá apenas 15 no ano que vem. À primeira vista, o regulamento parece esdrúxulo, mas uma análise um pouco mais criteriosa revela alguns dos motivos para a elaboração de um regulamento tão inédito quanto inusitado. Em linhas gerais, o torneio será disputado da seguinte forma:
- quatro grupos com cinco equipes em cada, e os quatro grandes estarão um em cada grupo;
- todos jogam contra todos, MENOS contra os times do próprio grupo - é este item que faz o regulamento ser esquisito
- classificam-se para as quartas-de-final os dois primeiros de cada grupo, que se enfrentarão dentro de cada grupo, em jogo único, com mando do campeão do grupo;
- semifinais também em jogo único, e final em ida e volta;
- os quatro piores, independente do grupo em que se encontrem, serão rebaixados.

Está fórmula traz a possibilidade de haver situações ridículas, apesar de serem muito improváveis. Por exemplo, se todos os times de um grupo vencerem todos os seus jogos, três times serão eliminados com 100% de aproveitamento. Por outro lado, se todos os times de um grupo forem muito mal, um time pode ficar entre os 4 piores do campeonato, e mesmo assim ficar em 2º em seu grupo, nesse caso ele estaria, ao mesmo tempo, classificado para as quartas-de-final e rebaixado. Apesar de pouquíssimo provável, está possibilidade está prevista em regulamento, e esse time seria beneficiado com a classificação para a fase seguinte, e o 5º pior (portanto com melhor campanha) seria rebaixado. São situações patéticas às quais o regulamento abre margem, mas sejamos razoáveis: é muito, mas muito difícil que aconteçam na prática. 

Outro aspecto nonsense é que os times que disputam uma mesma vaga em nenhum momento se enfrentarão. Assim, a partir do momento em que um time abrir vantagem sobre outro, ao time que estará atrás restará a opção de torcer contra o adversário, já que não haverá o confronto direto para reverter a desvantagem. 

Por outro lado, temos as vantagens de um regulamento tão estranho:
- os clássicos estão preservados, todos eles ocorrerão durante a fase de classificação;
- foi eliminada a possibilidade de os grandes se enfrentarem nas quartas-de-final, como vem acontecendo nos últimos anos. Assim, se os quatro grandes fizerem a sua parte (ficar em 1º ou 2º na fase de grupos e vencer o adversário das quartas-de-final), as semifinais serão disputadas por eles. Provavelmente, esta é a explicação que dá sentido a toda essa bagunça do regulamento, o que, com certeza, será negado até a morte pelos dirigentes da FPF. 


OS GRUPOS


O sorteio dos grupos foi imensamente favorável, como detalharemos abaixo, a SCCP e SPFC. O SFC caiu em um grupo que, com um pouco de exagero, podemos até chamar de "Grupo da Morte". O Palmeiras acabou ficando em uma situação intermediária. 


Grupo A
SPFC, os bambis de Jd. Leonor
Penapolense, o time da Sabrina Sato
Linense, o Elefante
Atlético Sorocaba, o time do Reverendo Moon
Comercial, o Leão do Norte

Grupo B
SCCP, o Small Club, a Ponte Preta de Itaquera
Botafogo, o Pantera
XV de Piracicaba, o Nhô Quim
Ituano, o Galo de Itu
Grêmio Osasco/Audax, o GEO

Grupo C
SFC, o caseiro de nossa casa de praia
Ponte Preta, a Macaca
São Bernardo, o Bernô
Paulista, o Galo do Japi
Portuguesa, a minúscula Lusinha

Grupo D
Palmeiras, o Campeão do Século XX
Bragantino, o Braga do Nabi, Nabi é Braga
Mogi Mirim, o Sapão
Oeste, o Rubrão
Rio Claro, o Azulão que não é o São Caetano




O INTERESSE


Muito tem sido discutido nos últimos sobre o decrescente interesse despertado pelo Campeonato Paulista e pelos Estaduais em geral. Entendo que a maior culpa é dela, a grande chefe do futebol no Brasil, a Rede Globo de Televisão. Vejamos: até a década de 90, os Estaduais eram disputados em metade do ano, e o Campeonato Brasileiro na outra metade. Ou seja, em 50% do ano, a Globo era obrigada a dar destaque não só aos grandes, mas também a times como Ponte Preta, Ituano, Caldense, Juventude, Volta Redonda, Londrina, Tupi, Americano, Mogi Mirim, etc. E na outra metade, mostrava clássicos entre os grandes de estados diferentes. Ao perceber qual era o tipo de transmissão mais rentável, a Globo decidiu que era hora de privilegiar a competição nacional e estrangular os Estaduais. Com isso, os times do interior passaram a ter um campeonato de bom nível apenas durante parte do primeiro semestre, entraram em apuros financeiros, não conseguem mais montar boas equipes, e nem fazer frente aos grandes. E os Estaduais deixaram de ser campeonatos bons e equilibrados. 
Outra razão do desinteresse é a derrocada de equipes tradicionais e com torcidas apaixonadas e leais no interior do Estado. No Paulista/14, teremos apenas cinco equipes realmente tradicionais entre os 15 do interior: Comercial no Grupo A, Botafogo e XV de Piracicaba no B, Ponte Preta e Paulista no C.
Não haverá Guarani, Juventus, São José, São Bento, América, Noroeste, Marília, Taubaté, Ferroviária... Esperamos que um dia todos esses times possam voltar a disputar a série A1 juntos. Hoje temos os quatro grandes, a Portuguesa e os cinco tradicionais citados acima. 
Dos outros dez times, três são remanescentes da geração de times que cresceram a partir da década de 80, e que tinha clubes que não conseguiram se sustentar na elite do futebol paulista, como União São João, Santo André, Rio Branco, Inter de Limeira, Araçatuba, Taquaritinga, Matonense, Novorizontino, XV de Jaú e, mais recentemente, São Caetano e Guaratinguetá. Os três "sobreviventes" - Ituano, Mogi Mirim e Bragantino - estão conseguindo se manter há mais tempo e criar já uma certa tradição, podendo talvez daqui a algumas décadas serem considerados times realmente tradicionais e indispensáveis ao futebol paulista. 
Quanto aos outros sete times - Penapolense, Linense, Atlético Sorocaba, Grêmio Osasco/Audax, São Bernardo, Oeste e Rio Claro - não há muita esperança de um futuro promissor. O Atlético Sorocaba é um time de empresários que deseja tomar o lugar do verdadeiro time da cidade, o São Bento. O mesmo ocorre com o Rio Claro em relação ao Velo Clube. Audax e São Bernardo são clubes-empresa muito recentes, sem torcida e visando somente lucro. Já Penapolense, Linense e Oeste têm seus méritos, mas são de cidades pequenas e sem tradição no futebol, de forma que dificilmente conseguirão se manter, e em poucos anos terão o mesmo destino de equipes com trajetórias muito parecidas, como Taquaritinga, Matonense, Sertãozinho e Catanduvense. 



O NÍVEL

A exemplo do que vem acontecendo há alguns anos, é irreal acreditar em alguma surpresa. O título ficará com um dos quatro grandes, com a única possibilidade de surpresa sendo a Ponte Preta alcançar a semifinal ou, com muita competência e um pouco de sorte, a final. Nem a Portuguesa parece ser candidata a almejar algo nesse campeonato, mesmo porque o sorteio a colocou no mesmo grupo de Santos e Ponte, e assim a Lusa é séria candidata, ao lado da própria Ponte, a ser eliminada ainda na primeira fase. Uma das duas obrigatoriamente vai cair fora. Muitos argumentarão que a Lusa faz melhor campanha que a Ponte no Brasileiro. No entanto, historicamente a Portuguesa se dá muito mal contra times pequenos no Paulistão. Ainda em 2013, disputou a série A2 do campeonato, por ter sido rebaixada em 2012, e tomou 7x0 do Comercial já na fase final. Ainda teve tempo de se recuperar e conquistar o título, mas a Ponte tem mais torcida, mais estrutura e até mais respeito por parte das equipes pequenas, por isso acredito mais na Ponte do que na Portuguesa. Mesmo assim, nada indica que alguma delas tenha chances nesse campeonato. O campeão será um dos quatro que todos já sabem. Obra da famigerada Rede Globo, como já explicado acima. 
Quanto aos times do interior, nenhuma análise é possível ainda. Esses clubes começam a montar seus grupos em novembro. No início de dezembro o elenco é fechado para início dos treinamentos e preparação para o campeonato. Mas, quase sempre, duas ou três derrotas seguidas são suficientes para o clube dispensar metade do time titular e contratar novos jogadores buscando uma recuperação. Por isso, neste momento não é possível ter a mínima ideia sobre como serão os times, quem pode dar mais trabalho ou quem briga para não cair. O que podemos antecipar é que os times que disputaram campeonatos de bom nível até o fim de 2013 possuem mais chances de conseguir manter a base e, assim, ter melhor presença no Paulistão. Dois desses times estão no grupo do Santos - Ponte Preta e Portuguesa. Outros três estão no grupo do Palmeiras: Oeste, Mogi e Bragantino. Bambis e Gambás, como sempre têm vida fácil, foram favorecidos no sorteio e só têm em seus grupos times que serão montados agora, sem sequência, sem base. Isso não tem a menor importância na primeira fase, mas nas quartas-de-final, onde os adversários vêm do próprio grupo e existe a chance de surpresa devido ao jogo único, será uma grande ajuda aos nossos rivais e inimigos. 

Que venha o Paulistão/2014. Certamente estará ofuscado por ser um ano de Copa do Mundo em nosso país. Mas todos sabemos que essa mesma Copa é apenas parte das comemorações pelo centenário do maior clube do Brasil, então o Palmeiras tem que ter foco nessa conquista. Vejam o nível dos reais adversários, todos eles com campanhas pífias no campeonato brasileiro. Mantendo a base, reforçando os setores mais carentes, e - por favor - trocando o treinador, temos muitas chances de copar esse título. O título paulista no ano do centenário seria muito festejado por toda nossa torcida (pelo menos acreditamos nisso) e traria muita tranquilidade ao elenco e comissão técnica para buscarem no mínimo mais um título, sem tanta pressão e sem a faca no pescoço. É isso que esperamos, e a largada já foi dada. Avanti, Palestra!!!!

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