Uma reestreia animal

“Minhas melhores histórias foram vividas no Palestra”. Edmundo.
(Foto: Divulgação/WTorre)

A frase que introduz o texto foi dita por Edmundo em ocasião de sua visita as obras do novo Palestra Itália (Allianz Parque), na tarde de 11 de setembro de 2013, demonstrando todo o carinho pelo Palmeiras. 

Edmundo foi um dos maiores craques da história do Palmeiras. Com personalidade forte, irreverência, habilidade nos pés que poucos tinham e um espírito vencedor que tanto gostamos, ele pintou e bordou em cima das defesas adversárias. Partia para cima do adversário sem dó alguma e os humilhava, levando a torcida palmeirense ao êxtase. Foi um dos meus primeiros ídolos, ao lado de outros monstros sagrados como Evair, Zinho e Cesar Sampaio, heróis dentro de campo e que foram importantes esteios para um rejuvenescimento considerável da torcida na década de 90.

Em sua primeira passagem, Edmundo faturou nada menos do que 5 troféus, sendo o mais importante deles o Paulista de 93, humilhando os gambás na final e sendo o titulo que nos tirou de uma incômoda fila de 17 anos. Não suficiente, na sequência veio outro Paulista, um Rio-SP e dois brasileiros.

10 anos após sua saída, já em 2005, aconteceu uma reaproximação em um jogo chuvoso no Palestra entre Palmeiras 2 x 2 Figueirense, quando as rodadas finais se aproximavam. Na ocasião, o Palmeiras disputava vaga na libertadores e o Figueirense brigava para não ser rebaixado e  Edmundo, que defendia o time catarinense, evitou a derrota. Após o jogo, ele foi ovacionado pela torcida e a expectativa de todos era que ele retornasse para o Palmeiras ao término do campeonato brasileiro.

E ele retornou. No final de 2005, após um campeonato primoroso disputado pelo Figueirense, Edmundo foi apresentado junto com Paulo Baier para a temporada seguinte. Tínhamos mais um ídolo em campo, uma referência de um tempo vencedor e uma nova esperança em meio aos tempos difíceis que vivíamos.

Edmundo era um dos poucos ídolos que eu ainda não tinha visto no estádio defendendo o Palmeiras – minha primeira partida no Palestra foi em 1999 – e minha ansiedade para o campeonato começar e vê-lo em campo pela primeira vez era grande, mesmo sabendo que não era o mesmo animal de 1993. Mas isso não importava, era uma lenda viva e que pelo que tinha feito no Figueirense, ainda poderia fazer coisas boas pelo Palmeiras.

E o jogo que marcou o retorno do animal aconteceu no dia 12/01/2006, estreia do paulistão daquela temporada contra o Ituano.

A torcida estava muito empolgada com a volta do ídolo e mesmo em uma data tão estranha para jogos oficiais (muito disso por conta da Copa de 2006), as pessoas compareceram de forma massiva, com mais de 25 mil presentes. Não estou acostumado com o estádio lotado em jogos que abrem a temporada, ainda mais em época de "férias", mas esse era um jogo especial, afinal, as expectativas por uma boa temporada somada com a reestreia de um ídolo fizeram uma mistura perfeita para o caldeirão ferver. E o Palestra realmente pulsou naquela noite.

Enquanto a torcida fazia uma festa digna de Palmeiras na arquibancada, o narrador do Palestra passou a dizer a escalação. Além de ovacionar o São Marcos como de costume, um nome a mais foi anunciado:

- Número 7: EDMUNDO!

E o Palestra Itália explodiu. Na sequência vieram os cânticos para os jogadores e assim, pela primeira vez gritei de maneira oficial para Edmundo com a camisa do Palmeiras:

- AU AU AU, EDMUNDO É ANIMAL! AU AU AU, EDMUNDO É ANIMAL!

Arrepiei. Estava prestes a ver a reestreia de um ídolo que nos ajudou a recolocar as vitórias no caminho. Era um dos símbolos de vitórias no passado e esperança de novas conquistas no futuro. Acima de tudo, era aquele jogador que me fazia vibrar junto quando tinha 5 anos de idade, sendo um dos meus primeiros heróis.

O jogo começou e mesmo o gol relâmpago do Ituano não assustou a torcida. Pelo contrário, a cada toque de bola do Edmundo era uma ovação impressionante e mesmo fora de ritmo, ele demonstrava classe em seus toques, digno do craque que sempre foi.

No fim, ele não foi o responsável pela vitória – o Palmeiras empatou o jogo com o zagueiro Daniel e virou o jogo com o outro defensor, o respeitável Gamarra – mas saiu de campo aplaudido merecidamente. Um dos nossos ídolos estava de volta.

Infelizmente, a segunda passagem não foi como a primeira, afinal, os elencos nos quais ele pertenceu não alcançaram bons resultados. Mesmo assim, Edmundo é craque e teve momentos de brilhantismo digno para seu canto do cisne, sendo um dos artilheiros do Paulista de 2007 e acabando com clássicos, no qual o dérbi de 2007 foi o jogo mais notório. Mas também esbarrou em elencos fracos, técnicos patéticos, esquemas táticos risíveis e teve algumas atuações abaixo da média (como todo o time), o que dividiu algumas opiniões ao longo da sua segunda trajetória. Dividiu também os holofotes do período com Marcos, Diego Cavallieri, Juninho Paulista e Paulo Baier no primeiro ano e no segundo editou uma parceria interessante com o então ídolo emergente Valdívia. 

Ao final de sua segunda passagem, sua história ficou gravada com 233 jogos, 99 gols e 5 títulos de magnitude. Uma marca expressiva, digna dos grandes vencedores. 

Mas eu só tenho que agradecer por tudo o que fez pelo Palmeiras. Um dos melhores jogadores que vi jogar. É o retrato da vitória, da rebeldia, é a cara do Palmeiras campeão que amamos e é acima de tudo, o animal que imortalizou a camisa 7. 

Se as melhores histórias de Edmundo foram vividas no Palestra, que ele tenha a certeza de que a história de milhares de palmeirenses no Palestra foram muito mais felizes com ele em campo. 

Obrigado por tudo Edmundo, jogadores como você fazem muita falta no Palmeiras de hoje. E mais uma vez: AU AU AU, EDMUNDO É ANIMAL!




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